quinta-feira, 18 de junho de 2015

Carta sobre o meu amor para avó do meu amor


OBS: Essa é uma carta real, sofreu alterações para a preservação de identidade dos personagens. Ela data de 25 de maio de 2015


Oi Vozinha, tudo bem? Estou com saudade.

Vó, eu andei pensando nos últimos tempos  na verdade desde a minha última visita sobre o amor, sobre a aplicação dele e como desenvolver isso. E gostaria muito de compartilhar isso com a senhora, e claro conhecer a sua visão sobre. Enfim, eu sempre estou dando trabalho a senhora, desculpe-me. Mas acho que isso tem muito a ver com a relação de amor, confiança, carinho, respeito e admiração que venho nutrindo pela senhora há tantos anos.

Bom, vamos lá.

Vó, eu tive analisando muito, muito mesmo sobre essa questão do sentimento pelo seu neto.

Primeiramente, eu penso que quando há amor ele não pode ser menor do que qualquer problema ou limitação. Acredito que o amor não impõe regras, não sufoca... o amor constrói, é capaz de ceder, de ensinar, de aprender... Sei que sou realmente muito jovem, e lógico que quando o conheci era bem mais. Mas ainda sim acredito fielmente na pureza dos meus sentimentos. E que quando olho para trás, embora eu veja diversos momentos de bastante dor, e claro dificuldade, vejo a importância desse sentimento na delicadeza das pequenas coisas que vivi ao lado dele. E quando escrevo isso, me refiro ao meu sentimento que sempre foi livre de qualquer presente, de qualquer preço, porque amar não tem preço. E digo isso porque esse meu sentimento sempre se deu pelo gestos simples de afeto como: um abraço, um beijo e uma simples demonstração diária de carinho e respeito.

Hoje, quando todos me falam que é perda de tempo ainda esperar por ele, eu sinceramente não ouço. Não sei se faço certo ou errado, mas vou ser sincera, não faço por ele. Faço realmente porque tenho total confiança no que eu sinto. Pela maturidade que tomei para a minha vida nesses últimos 5 anos. E por mim. Pelo o que sempre acreditei. E principalmente, por um ato que tive que foi aplicar o amor-próprio na minha vida. Daí a minha opção de respeitar meu sentimento ficando só, não gerando expectativas para outras pessoas, e me respeitando. Especialmente uma vez que sei que hoje não me sinto capacitada para outra relação, então sei que não devo insistir nisso. O fato de não procurá-lo tem muito a ver também com esse amor-próprio. Vejo que se ele há anos atrás teve motivos para terminar, acho que se realmente sente algo por mim, também teria motivos para chegar e ter a postura de me procurar. Como já chegou a fazer anteriormente. E conversar comigo e acertar as arestas do passado, construir algo novo. Acho que quando se toma conhecimento do seu valor, e da sua capacidade auto-valorização, tudo fica muito diferente; tudo fica bem mais definido. E é por isso que eu sei como quero que minha vida seja daqui há 10 ou 20 anos. E já sabia disso há 7 anos atrás quando o conheci. Sei que tenho certeza que quero ter minha família, meus filhos. E vejo que isso será extremamente essencial para mim. E é claro que farei de tudo para ter isso, e para que isso dure e frutifique. Só que daí entra ele... será que esse é o desejo dele? Quando você quer muito uma coisa, mesmo que demore muito, você faz de tudo para ter seu sonho realizado. Eu posso virar e falar que quero tudo isso - e um relacionamento que transborde a minha felicidade, e que eu possa proporcionar o mesmo pelo outro - mas e o que eu faço para ter isso? Se não faz, se não tenta... é porque não quer realmente. Todas as noites eu peço a Deus uma nova oportunidade junto a ele, e nesses anos o que eu me permito fazer é Orar. E sempre falo que se for melhor para ele outra que não seja eu, que ela seja capaz de amá-lo mais do que eu o amo. Mesmo que me machuque, espero que ele seja feliz.

Vovó, eu particularmente não quero pensar daqui há 20 anos que 'colecionei amores' ou pior que sobrevivi de 'migalhas de amores', especialmente quando eu sei que mereço me sentir plena nesse aspecto. Mereço, porque me vejo uma pessoa com sentimentos bem definidos, com sonhos bem definidos. E mais do que isso, bem disposta a me realizar. E se eu realmente não tenho dúvida, por que então não vivo isso hoje?  Quando pensei nisso tudo fui muito justa, e eu tenho para mim quando falo sobre colecionar amores... que não quero daqui há 20 anos pensar: 'Passei 2 anos com seu neto, 6 meses com outro, tanto tempo com fulano e tanto tempo com beltrano'. Daqui há 20 anos prefiro pensar que 'Passei 2 anos com o seu neto, 6 meses com o outro, e estou há tantos anos com a pessoa que escolhi dividir todas as dificuldades e desprazeres da vida. Porque um relacionamento não é feito só de felicidade. E claro, que gostaria mais do que isso, pensar que passei 2 anos com o seu neto, 6 meses com o outro... e que tudo o que passei nos 5 anos que fiquei longe dele foram suficientes para me entender, me aprimorar, para amadurecer e aí sim, poder viver até o fim enfrentando o que fosse e não perdendo o Amor que sinto. E claro, gostaria que isso acontecesse ao lado do próprio neto da senhora.

Hoje me sinto completa, porque aprendi a me fazer feliz sozinha, a querer passar mais tempo em minha companhia. Mas gostaria de viver um relacionamento que fosse possível ver que o amor é capaz de transbordar a felicidade que já sinto. Eu vejo que hoje os relacionamentos são tão líquidos... e o que eu quero é a solidez de um sentimento. A profundidade desse sentimento, a gratidão, a compaixão, a troca, o ato de se colocar no lugar do outro, o cuidado, a preservação do amor, o respeito e a continuidade. Este tipo de amor resignado, doce, companheiro, fiel. Definindo, quero uma relação estável e duradoura.

Embora jovem, não me sinto contente em viver relações superficiais que esse mundo moderno proporciona. Não consigo tratar ninguém como um bem de consumo, que quando eu enjoar vou descartar para trocar por um modelo mais novo, com um design mais bonito. Pessoas não são mercadorias, e muito menos sentimentos. Quem não se envolve, quem não ama, quem não sofre, não vive. Sobrevive. Eu quero viver os desafios que deveriam fortalecer as relações que todos os casais que escolhem ficar juntos lutam diariamente para vencer e continuar amando. E que hoje são os principais motivos de descarte. Na minha geração infelizmente, no primeiro sinal de dificuldade, a menor das incompatibilidades vira motivo para terminar. Sinceramente, não quero mais viver relações tão pobres e vazias. Isso cansa muito e ser for para ser assim ainda acho que é melhor ser feliz sozinha. Não quero fazer uma coleção de experiências, gostaria de viver uma experiência que mudasse todo o sentido da vida. Não quero um mosaico de amores, onde eu sempre tiro uma lição de cada relacionamento, em cada término. Não quero viver de frases como: Não era para ser, ou, agora ele é uma página virada. Eu quero sim um amor: chato, implicante, cansativo, mas cheio de afeto, cuidado e integridade. Aquele que mesmo brigado com o outro você se preocupa. E eu me enxergo nisso com o seu neto. Inacreditavelmente, depois de tantos anos separados, ainda sou capaz de me preocupar com alguém que nunca me mandou nem uma mensagem para saber como eu estou. Realmente sou muito burra ou o meu amor é livre de qualquer interesse. A senhora me entende? Será que eu estou tão errada assim?

Vozinha, desculpa esse texto gigantesco, mas é essa a forma que enxergo tudo isso. Acho que não adianta nada ele perguntar para senhora se eu sou a melhor opção, se ele perde tanto tempo com tantas outras meninas. Enquanto poderia estar construindo uma história comigo. Não adianta procurar em tantas outras, o que (in)felizmente só eu posso oferecer. Amar é uma questão de escolha, mas a vida não nos dá tempo para vivermos de maneira andarilha e errônea. Diferente dos jogos de vídeo-game dele, na vida real não tem 2 ou 3 vidas, não tem 'restart'. Eu já me enxerguei, só acho que ele ainda não se encontrou. Mas me dói um tanto saber que enquanto estou aqui, ainda disposta, ele prefere tentar me encontrar em tantas outras mulheres.

Um beijo,
Sua neta do coração
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